Anatomia da Artéria Etmoidal (Cadáver)
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As artérias etmoidais, compreendendo os ramos anterior e posterior, são estruturas vasculares integrais que têm imenso significado no domínio da cirurgia do seio e da base do crânio. Originadas do terceiro segmento da artéria oftálmica, essas artérias atravessam a órbita medial antes de passar pelos respectivos canais etmoidais e entrar nas células aéreas etmoidais. Embora exista um grau de variabilidade na existência da artéria etmoidal posterior (PEA), com estudos relatando sua ausência em até 19% dos casos, na maioria dos indivíduos, ela é encontrada correndo entre os músculos oblíquo superior e reto superior, entrando no canal etmoidal posterior para suprir o seio etmoidal posterior, as meninges da fossa craniana anterior e a mucosa nasal superior. 1 Notavelmente, o PEA é frequentemente menor em calibre, normalmente medindo menos de 1 mm de diâmetro. 2 Em contraste, a artéria etmoidal anterior (AEA) é mais consistente em seu trajeto anatômico, atravessando entre os músculos oblíquos superiores e retos mediais antes de passar pelo canal etmoidal anterior. Essa artéria desempenha um papel crucial no fornecimento de sangue aos seios etmoidais anterior e médio, ao seio frontal, ao septo nasal e à parede lateral do nariz. Uma compreensão completa da anatomia e das implicações clínicas dessas estruturas vasculares é essencial para garantir o planejamento e a execução cirúrgica seguros e eficazes.
A AEA é um marco particularmente importante no contexto do preparo cirúrgico pré-operatório. 3 Durante a análise das tomografias pré-operatórias, a identificação da localização precisa dessa artéria é crucial, pois permite que os cirurgiões avaliem sua potencial vulnerabilidade durante os procedimentos de etmoidectomia anterior. Curiosamente, estudos revelaram que aproximadamente 20% dos casos apresentam uma extensão deiscente ou descendente da AEA abaixo da base do crânio, destacando a necessidade de tratamento cirúrgico cuidadoso para evitar lesões inadvertidas nessa estrutura. 4
A AEA serve como um marco valioso durante a cirurgia endoscópica funcional dos seios paranasais (FESS). Os avanços nas tecnologias endoscópicas, equipamentos e modalidades de imagem expandiram o uso do FESS, permitindo que ele seja utilizado para a órbita e a base do crânio. A identificação da AEA auxilia os cirurgiões a localizar com precisão o seio frontal, o recesso frontal e a base anterior do crânio. 5,6
Durante os procedimentos cirúrgicos, a AEA serve como um marco crucial, delineando particularmente o limite posterior da dissecção do recesso frontal. 9 Sua identificação auxilia na orientação das manobras cirúrgicas, garantindo precisão e minimizando o risco de lesão inadvertida.
Embora a PEA seja geralmente menos problemática na cirurgia endoscópica de rotina dos seios paranasais, ela assume importância em contextos como intervenções de meningioma na base do crânio. 10 Embora raros, casos de sua deiscência podem exigir atenção, principalmente nos casos de seios hiperaerados, onde pode se projetar para dentro da cavidade sinusal.
Uma abordagem endoscópica para tratar a PEA envolve identificação cuidadosa e subsequente cauterização ou clipagem. No entanto, as preocupações com o risco de vazamento de líquido cefalorraquidiano (LCR) e a complexidade técnica justificam a consideração de abordagens alternativas, como métodos externos. A abordagem transcaruncular é favorecida por sua eficácia, segurança e duração rápida do procedimento. Este método oferece melhor exposição da artéria com sangramento reduzido, facilitando a manipulação arterial precisa. 11
Além disso, a AEA assume importância clínica no manejo da epistaxe grave e intratável, uma condição caracterizada por hemorragias nasais persistentes e descontroladas. Nos casos em que se suspeita que o sangramento se origine da região da AEA, a ligadura dessa artéria serve como uma intervenção terapêutica eficaz para tratar o sangramento refratário que não responde às modalidades convencionais de tratamento. 7 Além disso, a identificação dessa artéria auxilia na drenagem endoscópica de abscessos orbitais e na evacuação de hematomas orbitários. 8
Em resumo, compreender o significado anatômico e as implicações clínicas das artérias etmoidais anterior e posterior é fundamental para garantir o manejo seguro e eficaz das patologias sinusais e complicações associadas. Avaliação pré-operatória precisa, técnicas cirúrgicas apropriadas e um conhecimento profundo dessas estruturas vasculares são essenciais para otimizar os resultados do paciente e minimizar o risco de eventos adversos durante as intervenções cirúrgicas.
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Cite this article
Brown CS, Ramakrishnan JB. Anatomia da artéria etmoidal (cadáver). J Med Insight. 2024; 2024(161.2). DOI:10.24296/jomi/161.2.